Há muito mistério à volta do piano. Está presente nas salas de concerto há centenas de anos e continua a ser a base do pop, do jazz e de outros tipos de música moderna. E, no entanto, para cada pessoa que sonha em tocá-lo, há outra que desistiu depois de "Chopsticks".
Porquê? Porque aprender piano tem uma reputação. As pessoas pensam muitas vezes que é difícil, que consome muito tempo e que talvez até seja exclusivo de crianças prodígio ou de alunos de conservatórios. Se é um adulto que se pergunta: "Será que estou demasiado atrasado?" ou "Será que preciso mesmo de ler duas claves ao mesmo tempo?" não se preocupe. Não está sozinho.
A boa notícia é que não é tão impossível como parece. De facto, dependendo dos seus objectivos, pode ser mais fácil do que outros instrumentos. Tudo o que precisa é do roteiro certo.
Neste guia, vamos ver exatamente o quão difícil é aprender piano, com base na sua idade, tempo disponível, experiência musical (ou falta dela) e os desafios específicos com que a maioria dos principiantes se depara. Não pense em dominar Chopin numa semana. No entanto, será capaz de tocar músicas que adora muito mais cedo do que pensa. Vamos lá.
O que faz com que o piano pareça difícil?
O que é que torna tão difícil aprender a tocar piano?
Comecemos pelo óbvio: duas mãos, duas claves.
Ao contrário da maioria dos instrumentos em que se lê uma linha de música, o piano tem duas pautas. A mão direita trata da clave de sol, a esquerda da clave de fá, e espera-se que as leia simultaneamente.
Depois, há a independência das mãos. As mãos não se limitam a refletir umas às outras. Muitas vezes tocam ritmos, padrões e dinâmicas completamente diferentes. É o truque "esfregar a barriga, dar palmadinhas na cabeça" em forma musical.
Ao contrário da guitarra, não existem marcadores de trastes para indicar onde se está. Apenas 88 teclas numa fila. E, embora isso possa parecer ordenado, significa que a colocação dos dedos e a navegação são feitas a partir da memória muscular e não de pistas visuais. Vai perder-se mais do que uma vez, especialmente no início, e não há problema.
Acrescente os pedais de piano. Sim, até os seus pés entram em ação. Espera-se que pressione e levante o pedal de sustentação com um timing perfeito, tudo isto enquanto as duas mãos tocam e os seus olhos acompanham a música. Divertido, não é?
Uma vez que se melhora a tocar, tem de aprender a acrescentar expressão à sua forma de tocar. Tocar bem o piano tem a ver com a forma como se toca as notas. Mais forte, mais suave, staccato, legato. Tocar bem requer muita reflexão.
Além disso, muitos principiantes encontram a teoria musical pela primeira vez nas teclas. Acordes, escalas, progressões e tempo tornam-se reais quando é preciso tocá-los.
Não entre em pânico. A maior parte destas competências desenvolvem-se em conjunto, não todas de uma vez. O piano é esmagador em teoria, mas muito mais natural na prática.
O resultado final é que, apesar de o piano nos oferecer muitas coisas, só temos de nos preocupar em utilizar padrões simples e construir a partir daí.
O que é que torna o piano mais fácil do que outros instrumentos?
Embora o piano possa parecer complicado, é, em muitos aspectos, o instrumento mais fácil de utilizar para principiantes.
Em primeiro lugar: tudo está à vista de todos. As teclas estão dispostas numa ordem perfeita, de baixo para cima, da esquerda para a direita. Não há pinos de afinação. Não é necessário memorizar os dedilhados para cada nota, como acontece com um violino ou um trompete. Pode ver a teoria musical mesmo à sua frente.
E não é preciso "fazer" o som. Com os instrumentos de sopro, é necessário moldar a boca corretamente (chama-se a isto embocadura). Com as cordas, estamos constantemente a afinar e a criar calos. Com o piano, basta premir uma tecla e pronto, temos o som.
Também não precisa de um monte de equipamento para começar. Um teclado digital básico dá-lhe 95% do caminho sem a necessidade de um amplificador, cabos, palhetas ou resina. Basta ligá-lo e começar.
O que torna o piano ainda mais especial para os principiantes é o facto de ter uma dose completa de teoria musical logo desde o início. Aprenderá escalas, acordes e intervalos mais rapidamente do que em qualquer outro instrumento porque a disposição visual corresponde à estrutura da música. O piano ajuda-o a visualizar acordes e progressões de acordes muito mais facilmente.
Assim, embora o piano exija muito do seu cérebro, também lhe dá um feedback claro e instantâneo. E esse tipo de recompensa é raro na música.
É mais difícil aprender piano quando se é adulto?
Vamos esclarecer uma coisa: não, não é demasiado velho para aprender piano. De facto, os adultos são muitas vezes melhores alunos do que as crianças por várias razões.
Em primeiro lugar, têm mais concentração e disciplina. Os adultos escolhem efetivamente aprender piano. Não são arrastados para aulas particulares depois do treino de futebol. Estão motivados, empenhados e, normalmente, são mais consistentes. Além disso, aprendem canções que realmente lhes interessam. Quer tocar Adele ou uma partitura de Hans Zimmer? Força. Ninguém está a forçar a tocar "Mary Had a Little Lamb".
No entanto, existem desafios reais. Os adultos têm muitas vezes horários menos flexíveis, pelo que o tempo de prática pode ser limitado. A memória muscular demora mais tempo a desenvolver-se e pode não aprender as coisas tão rapidamente como uma criança de 10 anos. O perfeccionismo também pode ser um grande problema. Os adultos têm tendência para se criticarem por causa dos erros, o que pode atrasar o progresso mais do que qualquer problema técnico.
E, embora as crianças possam aprender mais depressa, os adultos mantêm-se fiéis durante mais tempo, especialmente quando estão a aprender pelas razões certas. Os estudos e a experiência dos professores confirmam este facto. Quando os adultos encontram alegria no processo e vêem progressos nos seus próprios termos, é mais provável que continuem a aprender.
Quer tenha 25 ou 65 anos, o maior obstáculo não são as suas mãos. É a sua cabeça. Se conseguir aparecer regularmente, manter-se curioso e aceitar o progresso lento, já tem o que é preciso.
Quanto tempo leva para aprender piano?
Não existe uma resposta universal para o tempo que demora a aprender piano. Depende realmente dos seus objectivos e da frequência com que se empenha.
Dito isto, eis um calendário realista para a maioria dos alunos adultos:
- 1-3 meses: Estará a tocar melodias simples, acordes principais e talvez até a sua primeira canção completa com ambas as mãos. "Let It Be", dos Beatles, ou "Someone Like You", da Adele, podem ser óptimas canções para começar.
- 6-12 meses: Começa a sentir-se confiante. Consegue ler partituras básicas, tocar com melhor timing e tocar canções pop completas. Alguns alunos começam a improvisar ou a experimentar peças clássicas simples.
- 2-5 anos: Bem-vindo ao clube dos intermédios a avançados. Está a lidar com repertório mais complexo de compositores como Bach e Chopin, voicings de jazz e talvez até a arranjar as suas próprias versões de canções.
A verdadeira variável é ter bons hábitos de prática. Uma prática consistente de 20 a 30 minutos por dia leva-o mais longe do que uma sessão ocasional de duas horas. E se estiver a seguir um método estruturado, como um curso online (Pianote), uma aplicação (Simply Piano, Flowkey) ou um professor de piano privado, é provável que progrida mais rapidamente e evite maus hábitos.
Além disso, tenha em mente o seguinte: autodidata não significa sem objetivo. Muitos tutoriais e aplicações do YouTube são legítimos, mas terá de se manter responsável e saber quando abrandar. A combinação de ferramentas estruturadas + prática regular é a sua melhor aposta.
Desafios comuns que os principiantes enfrentam
À medida que continua a aprender piano, terá alguns pontos de bloqueio que terá de ultrapassar. Aqui estão alguns dos problemas mais comuns com que os principiantes se deparam e como ultrapassá-los.
Independência das mãos
A mão esquerda quer espelhar a direita. Infelizmente, o piano não é tocado dessa forma. A maioria das pessoas tem dificuldade em tocar ritmos ou melodias separadas com cada mão, especialmente no início.
Resolve-o: Comece com padrões muito simples (como acordes bloqueados e melodia). Diminua o ritmo. Pratique as mãos separadamente e depois combine-as.
Ritmo e tempo
Uma coisa é tocar as notas, outra é tocá-las a tempo. Especialmente com ritmos sincopados ou swing.
Resolve-o: Utilize um metrónomo, um loop de bateria ou uma faixa de apoio. Bater palmas longe do teclado também ajuda a interiorizar os ritmos.
O platô de 3-6 meses
É frequente a motivação cair aqui. A adrenalina da aprendizagem inicial desvanece-se e o progresso abranda se não encontrar uma forma de tornar a sua prática mais excitante.
Resolver o problema: Definir objectivos a curto prazo. Aprender um novo género musical. Experimente uma música de um jogo de vídeo ou da banda sonora de um filme. A novidade é melhor do que o esgotamento.
Ler partituras
Ler as duas claves (a clave de fá e a clave de sol), manter o controlo das armaduras de clave e contar as batidas e os compassos pode parecer muito.
Resolver o problema: Comece com folhas de chumbo ou partituras simplificadas quando estiver a aprender a ler música. Use truques mnemónicos como "Every Good Boy Deserves Fudge". Com o tempo, a memória muscular assume o controlo.
Tédio ou esgotamento
Praticar escalas e exercícios sem qualquer retorno emocional mata rapidamente o ímpeto.
Resolve o problema: Equilibre a prática com canções que adora. Alternar dias de técnica com sessões criativas como improvisação, escrita de canções ou reprodução em conjunto no YouTube.
Ferramentas que tornam mais fácil aprender a tocar piano
Não precisa de um conservatório ou de um piano de cauda para começar. Tudo o que precisa são as ferramentas certas. E no mundo atual, há mais opções de aprendizagem do que nunca.
Professor, YouTube ou aplicação?
Cada um tem os seus pontos fortes.
Um bom professor pode fornecer feedback em tempo real, ritmo personalizado e responsabilidade. Mas podem ser caros e nem sempre é fácil encontrar bons professores.
O YouTube é gratuito e interminável, mas é fácil perdermo-nos no scroll ou adquirirmos maus hábitos.
Aplicações como Flowkey e Simply Piano acompanham-no passo a passo nas canções e permitem-lhe praticar de forma lúdica. São óptimas para a estrutura, mas carecem de correção personalizada.
A maior parte dos principiantes prospera com uma combinação dos três.
Eis algumas ferramentas para principiantes a considerar:
- Aplicações interactivas: Flowkey, Yousician e Simply Piano oferecem bibliotecas de músicas, lições teóricas e feedback sobre a sua execução. Ótimo para quem está a aprender desde o primeiro dia.
- Pianos digitais com teclas pesadas: Evite o sintetizador barato ou o teclado de piano de 50 dólares. As teclas pesadas imitam a sensação de um piano acústico real, o que treina os seus dedos desde o início.
- Folhas de acordes + partituras visuais: Comece com as folhas de acordes que mostram símbolos de acordes e linhas de melodia. São mais fáceis de ler do que a notação clássica.
- Visualização do rolo MIDI (DAWs ou Synthesia): Para quem aprende visualmente, os blocos descendentes na vista de rolo MIDI facilitam a compreensão do ritmo e da duração das notas.
Como aprender piano mais depressa
Não precisa de horas por dia para progredir no piano. Tudo o que precisa é de hábitos inteligentes.
Consistência em maratonas
Praticar 20-30 minutos por dia é muito mais eficaz do que uma sessão de duas horas uma vez por semana. Sessões diárias curtas desenvolvem a memória muscular e melhoram a recordação, e as sessões de prática são muito menos frustrantes. É o princípio do ginásio. As repetições frequentes superam os levantamentos pesados de vez em quando.
Separar por secção
Não tente dominar uma música inteira de uma só vez. Divida-a em partes, como a introdução, o verso, o refrão e a ponte, e trabalhe numa secção até estar limpa. Pense nisso como um puzzle. É melhor fazer as bordas primeiro, depois o centro.
Jogar devagar para ir rápido
A velocidade é um subproduto do controlo. Toque devagar, domine as notas e o tempo, e depois aumente o ritmo gradualmente. Apressar-se no início só leva a uma memória muscular desleixada.
Grave-se a si próprio
O microfone do telemóvel é a sua arma secreta. Grave a sua atuação, ouça-a de novo e apanhe as coisas que lhe escapam enquanto se concentra. Problemas de tempo, hesitações e dinâmicas irregulares são muito mais óbvios quando os ouve.
Ler menos, sentir mais
Confiar demasiado na notação pode atrasar o seu progresso. Em vez disso, utilize a memória muscular e o reconhecimento de padrões para libertar a sua forma de tocar. Isso ajudá-lo-á a familiarizar-se com acordes, intervalos e formas.
Porque é que vale a pena manter uma prática consistente
Então, porquê continuar a tocar piano quando as coisas ficam difíceis? Bem, porque há poucas coisas na vida que sejam tão gratificantes como aprender a tocar piano (ou qualquer outro instrumento musical).
É uma saída criativa
À medida que continua com as aulas de piano, pode eventualmente querer sair do âmbito da música de outras pessoas. O piano pode ser uma plataforma de lançamento para escrever as suas próprias canções, improvisar com amigos ou simplesmente improvisar quando precisa de desabafar. Até mesmo ter algumas progressões de acordes simples no seu currículo pode fazer surgir algo original.
É uma habilidade que estimula o cérebro
Vários estudos demonstram que tocar piano reforça a memória, a concentração e a coordenação mão-olho. Durante a prática consistente, tocar piano ativa ambos os hemisférios do cérebro. Os praticantes de longa data referem frequentemente uma melhor capacidade de resolução de problemas e um pensamento mais aguçado.
É social (mesmo que não o seja)
Quer esteja a tocar "Clair de Lune" para dois amigos ou a tocar acordes numa festa em casa, o piano tem a capacidade de ligar as pessoas. Pode acompanhar cantores, participar em sessões de improvisação ou tocar ao vivo, mesmo que seja apenas num evento casual. É uma habilidade que abre portas.
Atingimos marcos que realmente parecem grandes
O momento em que se toca a primeira canção completa é um momento enorme. A primeira vez que se improvisa sobre uma progressão de acordes é igualmente eléctrica. E quando se consegue tocar aquela canção de que sempre se gostou, é algo que nos prende para o resto da vida. Mudança de jogo.
Considerações finais - O piano é difícil de aprender?
Aprender a tocar piano como adulto não é fácil, mas também não é uma habilidade de elite e inalcançável. Trata-se de um processo que se desenvolve em camadas e que recompensa a paciência, a consistência e a curiosidade.
Sim, leva tempo a desenvolver a independência das mãos, a ler as notas sem semicerrar os olhos, a fazer com que o seu toque soe a música em vez de escalas. Mas não é preciso dominar Mozart para sentir a recompensa.
O verdadeiro truque é deixar de se preocupar em ser ótimo e começar a concentrar-se em ser melhor. Cada acorde que se aprende, cada melodia simples que se consegue, tudo se acumula com o tempo.
Aprender a tocar piano é difícil? Claro. Mas tudo o que vale a pena também é. E com a mentalidade certa, torna-se viciante.
Consulte um professor qualificado e comece a jogar hoje mesmo!